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sábado, fevereiro 10

Os Estatutos do Homem


Artigo I
Fica decretado que agora vale a verdade, agora vale a vida,
e de mãos dadas, marcharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana, inclusive as
terças-feiras mais cinzentas, têm direito a converter-se em
manhãs de domingo.

Artigo III
Fica decretado que, a partir deste instante, haverá girassóis
em todas as janelas, que os girassóis terão direito a abrir-se
dentro da sombra; e que as janelas devem permanecer, o dia
inteiro, abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo IV
Fica decretado que o homem não precisará nunca mais duvidar

do homem. Que o homem confiará no homem como a palmeira
confia no vento, como o vento confia no ar, como o ar confia
no campo azul do céu.

Parágrafo único:
O homem confiará no homem como um menino
confia em outro menino.

Artigo V
Fica decretado que os homens estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar a couraça do silêncio nem a

armadura de palavras. O homem se sentará à mesa com seu
olhar limpo porque a verdade passará a ser servida antes da
sobremesa.

Artigo VI
Fica estabelecida, durante dez séculos, a prática sonhada pelo
profeta Isaías, e o lobo e o cordeiro pastarão juntos e a comida
de ambos terá o mesmo gosto de aurora.

Artigo VII
Por decreto irrevogável fica estabelecido o reinado permanente
da justiça e da claridade, e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.

Artigo VIII
Fica decretado que a maior dor sempre foi e será sempre não

poder dar-se amor a quem se ama e saber que é a água que
dá à planta o milagre da flor.

Artigo IX
Fica permitido que o pão de cada dia tenha no homem o sinal

de seu suor. Mas que sobretudo tenha sempre o quente sabor
da ternura.

Artigo X
Fica permitido a qualquer pessoa, qualquer hora da vida, uso do
traje branco.

Artigo XI
Fica decretado, por definição, que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo, muito mais belo que a estrela da manhã.

Artigo XII
Decreta-se que nada será obrigado nem proibido, tudo será

permitido, inclusive brincar com os rinocerontes e caminhar
pelas tardes com uma imensa begônia na lapela.

Parágrafo único:
Só uma coisa fica proibida: amar sem amor.

Artigo XIII
Fica decretado que o dinheiro não poderá nunca mais comprar

o sol das manhãs vindouras. Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal para
defender o direito de cantar e a festa do dia que chegou.

Artigo Final
Fica proibido o uso da palavra liberdade, a qual será suprimida

dos dicionários e do pântano enganoso das bocas. A partir deste
instante a liberdade será algo vivo e transparente como um fogo
ou um rio, e a sua morada será sempre o coração do homem.


Thiago de Mello







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