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domingo, dezembro 30

Happy New Year

Receita de Ano Novo
Carlos Drummond de Andrade


Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens? passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.


A New Year Recipe
Carlos Drummond de Andrade


For you to get a beautiful New Year
the colours of the rainbow, or the colour of your peace,
a New Year unsuitable for comparing to all the time gone by
(gone by in a bad way or perhaps purposelessly)
for you to get a year

not only painted new, mended swiftly,
otherwise new in its seeds and its to-bes,
new even in the core of those less noticed little things
(starting with your inner being)
spontaneously new, whose perfection goes unnoticed,
however suitable for eating, for strolling along,
for loving, for understanding, for working,
you don’t have to drink champagne or any other spirits,
no need to send nor receive messages
(does a plant get any messages? send any cables?).
You don’t have to write an intentions list
that you’d soon file in a drawer.
No need to cry in repentance
for any betises made

nor believe dumbly
that just as ruled by hope
things may change from January on
and everything may become clear, rewardable,
that fairness among men and nations just springs,
that freedom smelling and tasting like breakfast rolls pops up,
that rights will be respected, starting with
the august right for living.
To get a new-year
that's worth its name, you, my dear, have to deserve it,
you ought to make it new, I know it’s not easy,
anyway just try it, try it on, aware of trying.
It’s within you that the New Year sleeps and awaits ever since.

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